Em três meses, startup brasileira é avaliada em US$ 100 milhões

Fundada em abril, a Fazenda do Futuro, que fabrica hambúrguer à base de vegetais, recebeu US$ 8,5 milhões em sua primeira rodada de investimentos

Italo Rufino
23/Jul/2019
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Em três meses, startup brasileira é avaliada em US$ 100 milhões

O que faz uma empresa ser avaliada em US$ 100 milhões apenas três meses após a sua fundação?

O caso raro aconteceu –e aqui mesmo no Brasil. Na semana passada, a startup Fazenda do Futuro, especializada na produção de hambúrgueres vegetais, feitos com ingredientes como soja e beterraba, que imitam a consistência da carne bovina, passou por sua primeira rodada de investimentos.

De pronto, recebeu um aporte de US$ 8,5 milhões. Os investimentos vieram dos fundos Monashees, que possui participação em startups brasileiras com crescimento exponencial, como Loggi e 99; e da Go4it, que costuma investir em empresas de tecnologia ligadas ao esporte, como o Strava, maior rede social de atletas presente em 195 países. Detalhe: a Go4it é dirigida por Marc Lemann, filho do empresário Jorge Paulo Lemann, do grupo 3G.

Com o caixa cheio, a Fazenda do Futuro vai expandir significativamente sua rede de atendimento pelo Brasil. Atualmente, a empresa está apenas no sudeste e algumas capitais do Sul e Nordeste.

O quadro de pessoal também deve crescer. A estimativa é saltar de 30 para 90 funcionários –a maior parte das contratações deve engrossar a equipe comercial.

A fábrica da empresa, instalada em Volta Redonda, no Rio de Janeiro, também passará por mudanças para aumentar o nível de produção. Hoje, produz 150 toneladas por mês. A meta é chegar a 550 toneladas.

LEIA MAIS: “Demanda por comida vegetariana e vegana é maior do que a oferta”

PRODUCT MARKET FIT

Três características da Fazenda do Futuro podem explicar o imã por investimento.

Primeiro, seu produto singular. Como já foi dito, o hambúrguer é feito à base de plantas, mas simula a textura de carne bovina. A utilização da beterraba, por exemplo, serve para dar a impressão de cor de sangue.

Os sócios da empresa, Marcos Leta e Alfredo Strechinsky, fundadores da empresa de sucos Do Bem -vendida para a Ambev em 2017-, gastaram dois anos desenvolvendo o produto.

No processo, tiveram ajuda de engenheiros de alimentos e utilizaram inteligência artificial para atingir a fórmula, que chegou a ter nove versões diferentes.

Em breve, será lançado uma nova versão do produto, batizada de Futuro Burger 2.0, ainda mais similar com a carne bovina.

A inovação está alinhada com uma enorme demanda, dividida em duas frentes. E aí que entra o segundo lance de mestre: há um grande mercado em potencial que a startup pode atingir.

No ano passado, uma pesquisa do Ibope apontou que o número de vegetarianos no Brasil quase dobrou nos últimos seis anos. A estimativa é que vivem no país 29,2 milhões de vegetarianos.

A mesma pesquisa apontou que se os produtos veganos (aqueles que não contém ingredientes de origem animal, como leite) tivessem o mesmo preço dos produtos de origem animal, 60% dos consumidores dariam preferência a eles.

Porém, a Fazenda do Futuro não quer atender apenas os vegetarianos e veganos. A startup quer bater de frente com a indústria da carne. Parece uma luta de Davi contra Golias, mas há bastante gente a seu favor.

BEYOND THE MEAT: EMPRESA AMERICANA QUE FAZ HAMBÚRGUER À BASE
DE VEGETAIS ANGARIOU US$ 10 MILHÕES DURANTE IPO EM MAIO

Nos Estados Unidos, por exemplo, existe um movimento chamado Reducitarianismo, em que os adeptos se comprometem a comer menos carne, laticínios e ovos.

Entre as razões desponta a questão ambiental.

O fato é curioso, mas real: cerca de 25% do metano jogado na atmosfera é oriundo de vacas, de acordo com Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos.

O dado é corroborado pela ONU, que estima que a indústria da carne é responsável por cerca de 15% da emissão de gases relacionados ao efeito estufa.

Além disso, rios e lagos são poluídos com resíduos dessa indústria. Ao mesmo tempo, milhares de hectares de florestas são desmatados para criação de pastos.

Tais fatos fizeram ajudaram a empresa Beyond Meat, fundada em 2009, que produz produtos protéicos com vegetais substitutos de carne animal, fosse avaliada em 10 bilhões durante seu IPO na Nasdaq, em maio passado.

E a Fazenda do Futuro está de olho em todos esses movimentos. No mesmo mês que a Beyond Meat abriu capital, a startup brasileira colocou no mercado sua primeira versão do Futuro Burguer, que passou a ser vendido na rede Lanchonete da Cidade.

A startup, então, abriu mais um canal de vendas. O produto começou a ser vendido também em grandes redes de supermercados, como Grupo Pão de Açúcar, Carrefour e Walmart, em cinco estados. Em dois meses, a empresa chegou a 100 restaurantes e 2 mil pontos de venda.

Em breve, a empresa também começará a fornecer carne para o restaurante Spoleto, rede com 500 unidades, que utilizará a proteína em pratos como macarrão à bolonhesa.

Tudo é uma maravilha? Não. Atualmente, a embalagem de duas unidades de hambúrgueres da Fazenda do Futuro custa quase R$ 20,00. O preço restringe a oferta a grande parte dos consumidores.

De acordo com estimativas da própria startup, para o preço do Futuro Burguer ser equivalente ao do hambúrguer tradicional, seria necessário produzir 1,2 mil toneladas por mês, cerca de 220% a mais do que a capacidade que a indústria terá após a reformulação.

Enquanto isso não acontece, a empresa terá de mostrar que consegue atingir as expectativas dos investidores.

E campo para explorar é o que não falta. Até 2050, a produção mundial de alimentos deverá aumentar 70% para suprir a necessidade da população. E, para visionários, 30 anos é tempo suficiente para grandes transformações

*Com informações de Estadão Conteúdo. 

IMAGENS: Divulgação

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