Inhotim cria app inspirado na Disney para elevar a experiência do visitante
Luciana Zanini, CFO do Instituto, diz que a proposta da ferramenta é antecipar necessidades do visitante, com roteiros, distâncias e os tempos dos trajetos

Há pouco mais de um mês, o Instituto Inhotim, em Brumadinho (MG), lançou um aplicativo para guiar de forma mais prática os seus visitantes. Com roteiros e um mapa em tempo real, a ferramenta permite uma visão geral do complexo, que é hoje o maior museu a céu aberto da América Latina.
A novidade é parte de um movimento de governança que o Instituto vem desenvolvendo e que inclui ações voltadas à democratização do acesso e um maior cuidado com a experiência do visitante.
Com versões em português e em inglês, o aplicativo teve mais de dez mil downloads em fevereiro, mês em que se tornou disponível para o público. Além da programação atualizada do Instituto, roteiros personalizados, marketplace e informações completas sobre as galerias de arte, obras, artistas, jardins e destaques botânicos, quem baixa a ferramenta tem 10% de desconto na compra de ingressos, que partem de R$ 60.
Hoje, o público do Inhotim é diversificado, com uma idade entre 26 e 50 anos, sendo mais da metade dos visitantes de fora de Minas Gerais. A ideia a partir do aplicativo é escalar esses números.

Tornar o destino mais atualizado quanto à experiência tem muito a ver com o período tecnológico em que vivemos, mas também passa por outro desejo da atual gestão, explica Luciana Zanini, CFO do Instituto. A partir de um estudo feito em 2022, foram identificadas as dores dos visitantes, o perfil de quem vai ao local e como é possível melhorar a jornada dessas pessoas dentro do Inhotim, que segue sendo offline.
A ideia é antecipar as necessidades do visitante, oferecer dados sobre a distância a ser percorrida, o tempo estimado para cada trajeto e opções de transporte, como carrinhos elétricos, além de oferecer conteúdos em áudio e vídeo para deficientes visuais e auditivos. São 140 hectares de visitação.
Thiago Delfino, sócio da Bain & Company e Líder da prática de Inovação e Design para América Latina, fez parte desse processo. A consultoria entrevistou cerca de 1,5 mil pessoas usando um processo metodológico que permitiu mapear todos os momentos de planejamento do visitante, a vivência dentro do Inhotim e as oportunidades de manter esse público engajado mesmo após a visita.
Segundo Delfino, a criação da plataforma não apenas facilita e enriquece a jornada do visitante, mas também representa um passo importante na estratégia institucional do Inhotim.
"O app reforça a imagem do museu como uma instituição de vanguarda, conectada às necessidades das pessoas e comprometida com a ampliação do acesso à arte, cultura e natureza, reforçando o papel transformador que organizações como o Instituto Inhotim desempenham para a sociedade", diz Delfino.
Para chegar nesse conceito, layout, design e usabilidade, o desenvolvimento do aplicativo foi inspirado em referências de sucesso como os parques temáticos da Disney, o Getty Museum, em Los Angeles, nos Estados Unidos, e o Louvre, em Paris, na França.
Na equipe de desenvolvedores da plataforma, Luciana diz ter envolvido profissionais que já trabalharam com serviços bancários, varejo, atacado, entre outros segmentos, para embutir essas experiências no aplicativo e aproximá-lo do dia a dia do visitante.
"Somos um destino turístico, nos inspiramos em apps de parques temáticos, como a Disney, e de museus do mundo todo para repensar a jornada de quem nos visita. Fazer isso acontecer é ter uma governança que pensa no longo prazo, do ponto de vista financeiro e social”, afirma Luciana.
Definindo esse momento como de transformação, a executiva diz que, embora esteja à frente de um patrimônio cultural, é necessário enxergá-lo (e administrá-lo) como um negócio, que precisa captar projetos, patrocinadores e público.

Há pouco mais de dois anos no cargo, Luciana vem do mercado de capitais e finanças. Já a Diretora-Presidente do Instituto é Paula Azevedo, vinda do Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo, e que se tornou a primeira CEO mulher do complexo, em 2024. Das seis diretorias da instituição, cinco são lideradas por mulheres: Júlia Rebouças, diretora artística, Gleyce Heitor, diretora de educação, Alita Mariah, diretora de infraestrutura e operações, Patricia Schmidt, compliance officer e diretora de riscos e controles, e Luciana.
Ela relembra que os últimos anos foram desafiadores com o rompimento da barragem da Vale, em 2019, e a pandemia da covid-19, bem como algumas mudanças de gestão. Ela explica que, em um processo de institucionalização do museu, foram criadas para o espaço as primeiras políticas de compliance, acervo, acessibilidade e diversidade.

Houve também a criação de um novo formato de governança, com um conselho deliberativo de 30 membros, de várias áreas da sociedade civil. Além disso, o instituto passou a ser autônomo em termos financeiros, com a receita vinda de patrocínio, bilheteria e de leis de incentivo federal e estadual.
Hoje, as maiores fontes de receita do complexo são a Lei Rouanet e a lei de Incentivo à Cultura de Minas Gerais. Dos 335 mil visitantes que passaram pelo espaço em 2024 - um recorde -, cerca de 60% aproveitaram entradas gratuitas por meio de programas como o Nosso Inhotim, que é válido para qualquer dia para moradores de Brumadinho, e todas as quartas-feiras e no último domingo do mês para o público geral.
Pensando não apenas para dentro, mas no impacto que o Inhotim causa no seu entorno, Luciana destaca que o Brasil ainda acumula muitas barreiras para acessar a arte e, por isso, as políticas de gratuidade são fundamentais. Como exemplos de políticas de inclusão, ela também destaca o grupo de equidade racial, criado há quase dois anos, a criação de uma diretoria de educação, algo único no Brasil e que tem despertado várias atividades de escuta com lideranças da comunidade, e o programa Lab Inhotim, de jovens locais que viajam para atividades relacionadas à arte.
A 60 quilômetros de Belo Horizonte, em Minas Gerais, Brumadinho possui cerca de 40 mil habitantes e um PIB de R$ 4,6 bilhões, onde a mineração responde por grande parte das receitas do município. Um dos objetivos do Inhotim, segundo Luciana, é fomentar a economia local a partir do turismo - são quase 1 mil empregos entre colaboradores diretos e indiretos. E isso, certamente, passa pela criação do app, para melhorar a experiência, atrair mais visitantes, assim como parcerias na rede de hotelaria.
“Miramos um novo ambiente socioeconômico, onde empregos e rendas são gerados, e fortalecemos o empreendedorismo local, incentivando também novos negócios", diz Luciana.

Diante disso, o Inhotim tem buscado, nos últimos anos, mais parceiros e patrocinadores que podem corroborar com o crescimento e desenvolvimento da região. A Vale é a patrocinadora master do Instituto, que também tem o apoio da Cemig, Shell, do governo de Minas, Itaú e da B3. O Clara Resorts, aponta Luciana, é uma das empresas parceiras no segmento de hotelaria de luxo.
Em dezembro do último ano, a rede abriu a terceira unidade do grupo, que até então só estava em São Paulo (Clara Ibiúna e Clara Dourado), ao lançar o Clara Arte, em um terreno vizinho ao Inhotim com uma experiência hoteleira diferenciada. A construção de um hotel 5 estrelas com entrada exclusiva para o museu é a primeira opção de luxo para quem visita o complexo.
Com um investimento de R$ 200 milhões, a obra foi finalizada em 2024 e tem diárias que partem de R$ 6 mil. O hotel tem uma cláusula de exclusividade em toda a área do Inhotim pelo menos até 2031, sendo a única opção disponível para turistas perto do museu. Hoje, o Inhotim recebe muitos visitantes estrangeiros e Luciana acredita que a chegada da rede à cidade pode inflar esse número, bem como estender o tempo de permanência desses visitantes na região.

São 46 bangalôs, pensão completa e um conceito que busca integrar arte e natureza, com quadros de Inhotim pelo hotel, além da piscina coberta que é assinada por José Patrício, artista visual de Pernambuco.
Com base no que já oferece, o hotel tem potencial para alcançar o status de um resort 6 estrelas em breve - faltam algumas estruturas como quadras de vôlei, futebol e tênis, que já são um padrão nos outros hotéis do grupo e devem aparecer em breve.
A expansão do hotel deve acontecer ainda em 2025 com a construção de mais 31 quartos, incluindo as quadras. Por outro lado, em nota, o grupo diz "não focar exatamente nesse status, pois o conceito de luxo é potencializado quando um hotel está na porta de um museu e tem compromisso com transparência e sustentabilidade."
IMAGEM DE ABERTURA: Ana Clara Martins/divulgação